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Atrapalhou?

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O jogador Robinho fez declarações referindo que o movimento feminista atrapalhou sua contratação pelo time do Santos. É isso mesmo, dificultaremos, ao máximo, a vida daqueles que insistem em violentar as mulheres e acharem que isso é "natural". Inclusive, talvez pela pressão dos movimentos feministas, o posicionamento de comentaristas esportivos modificou bastante nos últimos anos. Basta ouvir o depoimento recente do Casagrande sobre o ocorrido: "Já falei diversas vezes que parece que futebol é uma bolha e lá dentro você pode fazer tudo, agredir, até matar, ofender as mulheres no estádio. Quando você faz isso na rua, você é preso. Então o futebol tem que quebrar essa bolha, isso não existe".

O jornal Mulherio, da Fundação Carlos Chagas, trouxe como manchete no ano de 1988, o texto de Grossi e Rial intitulado Os estupradores que viraram heróis, o qual conta uma passagem de jogadores do Grêmio em 1987, que tornam evidentes as diferenças de posturas com o caso atual. O artigo revela que quando Henrique Etges, Fernando Castoldi, Eduardo Hamester e Alexi Stival, o Cuca, retornavam de um torneio em Zurique com acusação de estupro de uma menina de 13 anos, ao invés de serem criticados, foram elogiados no saguão do aeroporto. Sim, isso mesmo, os quatro haviam abusado da mesma menina na mesma ocasião e a conotação da imprensa gaúcha na época foi de minimizar o caso.

Paulo Santana, famoso torcedor do Grêmio e comentarista de futebol, fez na ocasião, várias declarações, reforçando que o ato foi "uma travessura irresponsável" dos "meninos". Lauro Quadros, jornalista muito conhecido no Rio Grande do Sul, salientava que "meninos" poderiam ser garanhões e, portanto, não deveriam ser os jogadores culpados por tal ato.

Pois é Robinho, agora, além dos movimentos feministas, contamos com a visibilidade nas redes sociais, o que torna praticamente impossível saíres ileso dessa história. Não adianta abraçar a Bíblia, pois certamente o que está escrito ali não abona teu ato. Estamos atentas, prontas para "atrapalhar" nas situações que envolvem afronta contra o gênero feminino. Precisamos acabar com a cultura de defender estupradores e acusar as vítimas. Talvez situações como essa despertem na sociedade a necessidade de trabalharmos a educação igualitária entre meninos e meninas desde cedo.

O país do futebol pode começar a dar bons exemplos por meio de atitudes não machistas e colaborar para sairmos do ranking dos primeiros lugares do mundo em casos de violência contra as mulheres. É doloroso saber que a cada dois segundos, uma mulher é vítima de violência física ou verbal no Brasil. Segundo a Secretaria de Governo Federal, por volta de 12 pessoas são vítimas de feminicídio diariamente, e são contabilizados mais de meio milhão de casos de estupro por ano no país, sendo que apenas 10% chegam à Justiça.

Só para deixar bem claro: se estamos incomodando, ótimo! Usaremos a nossa voz e pressionaremos para o fim do abuso com mulheres seja no futebol ou fora dele. Lembrando que o estupro pode ocorrer em qualquer lugar, e pode vir de um professor, um religioso, um tio, um médico. Denuncie. Isso não é normal. Não é sem querer. Não toleramos mais qualquer tipo de abuso e violência contra mulheres.

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